19 de jul. de 2013

Os 6 portais da mulher

Somos nós mulheres tetas, mulheres vaginas, mulheres úteros, mulheres que transformam o mundo. Não é mentira. Você já ouviu falar em agenda 21? São planos e metas para a transformação de toda a comunidade global. Existem agendas 21 voltadas para mulher. Isso porque geralmente é a mulher quem dita aquilo que se come e como se recicla o lixo. É ela quem ensina os hábitos de higiene, quem pode mudar valores de uma pequena comunidade ou de toda uma sociedade.
E qual a maneira mais eficiente de manter uma sociedade estagnada, anestesiada e funcionando regida pelas leias capitalistas. Aliene as mulheres! Vou falar mais disso quando explicar mais sobre os portais da mulher.
Somos nós, mulheres, capazes de impactar no campo mórfico.
Campo Mórfico
Há cerca de 30 anos, cientistas observavam macaquinhos em ilhas do Japão. A idéia era atraí-los com batata-doce para que descessem das árvores e se posicionassem em locais onde pudesse ser melhor analisados. Um dia, uma macaquinha chamada Imo resolveu lavar o alimento no mar antes de comê-lo. Como a experiência foi bem sucedida, ela ensinou aos outros como fazer. E a prática foi se difundindo até que todos os macacos daquela ilha passaram a lavar suas batatas antes de comê-las.
O mais interessante, porém, é que os cientistas observaram que, depois de algum tempo, todos os macacados das ilhas do Japão adotaram o hábito, ainda que não houvesse nenhuma comunicação entre as colônias.
A alegoria do “Centésimo Macaco” escrita por Ken Keynes Junior e baseada na Teoria do Campo Mórfico, do biólogo Rupert Sheldrake, infere que quando um comportamento atinge seu número crítico, ele se torna um padrão para a espécie. Assim como funcionou com os macacos, nossa cultura pode mudar com a existência de um “centésimo macaco”.
É a partir daí que Jean Shinoda Bolen, M. D., analista junguiana, apresenta o tema em seu livro O Milionésimo Círculo, que descreve o potencial das mulheres em mudar nosso rumo ao criar um novo padrão para uma era pós-patriarcal.
Círculos de Mulheres

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A chave de transformação seriam os Círculos de Mulheres, encontros em que celebramos as nossas conquistas, desafios e criamos oportunidade de um apoio mútuo. Segundo a autora quando o milionésimo círculo estiver ativo e constante estaremos criando através do campo mórfico e das atitudes das mulheres, um novo padrão.
Aqui em Belo Horizonte coordeno os meus, a cada lua nova e cheia, compartilhando dos meus saberes de mulher que cruzou 4 dos 6 portais da vida da mulher.
Portais da mulher
No início deveria existir amor. No fim amor e no meio protagonismo. Mas o que existe é no início intervenção, no meio alienação e no fim como se não tivesse existido começo.
Um dia caminhando em volta de um parque constatei uma verdade: o início e o fim da vida são idênticos. Vi uma babá carregando, vestida de branco, no carrinho, um bebê com menos de seis meses de vida. Na boca, chupeta a acalentar a ausência de peito, mãe, nutrição.
Na outra volta, vi uma enfermeira, igualmente vestida de branco, carregando um senhor em uma cadeira de rodas.
Talvez esse bebê tenha nascido como a maioria: tendo a vida encurtada em uma cesárea eletiva, quando nem mesmo tinha dado sinais de sua maturidade. Ele nasceu e foi aspirado, esfregado e levado para longe de sua mãe. Banhado e num berço aquecido e frio de sentimentos ele, resignado, depois de tanto chorar, adormeceu em solidão.
Muito provavelmente esse senhor quando precisar de cuidados irá para uma UTI, estará longe dos eu lar, de seus entes queridos, será entubado e sua vida prolongada sem que os sinais claros de seu fim sejam respeitados. Morrerá sozinho, anestesiado e resignado em sua solidão.
A vida começa e termina, para homens e mulheres, mediadas pela tecnologia que visa não o conforto, mas o falso controle da vida e da morte.
Como disse lá em cima, uma sociedade permanece estagnada quando principalmente as mulheres estão alienadas, distraídas, desfocadas.
A busca pelo padrão estético talvez sejam destas ferramentas eficientes de alienação feminina em massa e a medicalização da vida a forma principal de alienação do corpo e seu processos físicos e emocionais. No início antitérmico, no meio antidepressivo e no fim remédios para doenças escleróticas. Na antroposofia existem estudos que mostram que são as doenças febris (as febres altas) anntes do sete anos que previne as doenças degenerativas do fim da vida.
Quando se fala da mulher essa medicalização é mais intensa, afinal quantas mulheres, logo ao menstruar, começam a tomar pílula (para melhorar a pele, os desconfortos). Quantas mulheres tomam remédio para emagrecer como se fosse bala. Quantas falam de remédio para dormir como se fosse marca de perfume.
É uma profunda alienação de si mesmo expressa nos 6 portais da mulher.

1 portal: O Nascimento

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Desde o final da década de 80 a maior parte das mulheres foi impedida de dar a luz e seus filhos vieram para esse mundo por via cirúrgica. Já nascemos com essa marca, esse imprint inicial: haverá alguém sempre a fazer algo para você. Citando um pouquinho de Freud: a pulsão de vida é impedida, nem mesmo é despertada (em uma cesárea eletiva). Logo ao nascer esperamos que alguém faça o trabalho por nós e assim seguiremos por toda a vida. E lá estava a mulher, sua mãe (a minha estava) deitada, com braços e pernas amarrados, seccionada: sete camadas cortadas e seu ventre dividido. Da cintura para baixo essa energia demorará a voltar a fluir. Esse imprint que recebemos: anestesia (advinda da cirurgia), separação, sofrimento (agulhadas, banhos, luzes, desrespeito ao corpo do bebê), solidão. Lembro de uma amiga contar que sentia a força da sua filha da nascer.  Qual o imprint que essa menina guarda? A mulher que me gerou se abriu para pulsão da minha passagem e pelo meu esforço eu vim.  É no parto que recebemos a nossa primeira dose de anestésicos ao invés dos hormônios naturais do amor (liberados em um parto natural).

2 portal: primeira menstruação*

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É tanta energia, tanta vitalidade, tantas transformações. Descobrimos nesta etapa a substituição da criança pela menina moça. É o nascimento da nossa individualidade que geralmente vem com a primeira menstruação. A primeira menstruação é vista pela sociedade e pelas meninas como algo muito ruim. O sangue, o absorvente. Pouco se fala sobre isso. As mulheres se escondem para não mostrar que estão menstruadas. O saquinho do absorvente é uma droga escondida nas mãos, nos bolsos em que se vai no banheiro para que ninguém perceba que sangram. Tão logo podem, usam pílulas para não menstruarem mais (ou para melhorar a pele). Lembro que na viagem de formatura algumas amigas tomaram pilula para que pudessem viajar sem menstruar. Transar menstruada?! Nem pensar! E a vida segue com TPMs, pílulas e mulheres alienadas de seus períodos menstruais, de seus corpos e de suas almas.

3 portal: primeira relação sexual*

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Cada dia mais esse período está tão perto da primeira menstruação. Aliás, as meninas tem menstruado antes do tempo. Completamente imaturas a primeira relação é muitas vezes sem respeito, sem significado. Sem contar que um grande número de mulheres ainda sofrem abuso sexual na infância e essa primeira relação sexual é cheia de humilhação sentimento de culpa. Quantas mulheres passam uma vida sem gozar, sem entender muito bem o que é e para que serve a relação sexual 9além das esferas da procriação). O sexo é arma de troca ou mecanismo de conquista. Fico pensando quando é que vamos nos libertar deste tabu? Passamos mais horas depilando, fazendo unha, gastando com roupas e lingerie do que realmente curtindo o sexo. Isso desde o começo: alienadas com a forma, anestesiadas do prazer.

4 portal: gestação e parto

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Está aí um portal que a sociedade, principalmente brasileira está tomando da mulher. Ou você opta por um parto normal cheio de violência ou se aliena, tem os braços e pernas amarrados e se submete a uma cesárea.  As mulheres que cruzam esse portal e optam por um parto humanizado, em que assumem o protagonismo, causam fenda no sistema. Nada será como antes: não obedecemos pediatras, médicos. Questionamos, corremos atras de informação, procuramos várias opiniões. O parto humanizado restitui o protagonismo. Faz a gente sair da cadeira e literalmente rebolar: ver-se diante do espelho da dor. Daí para frente passamos a questionar tudo e muitas de nós  redesenham a vida fora do sistema. Mas a grande maioria:  segue as recomendações médicas, aceita uma cesárea, anestesiada, vive uma depressão pós parto. Se reergue com ajuda de remédios. E vive a vida buscando significado para as coisas que nunca tiveram significado para ela.

5 portal: Menopausa*
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Quando os cabelos prateiam e a mulher cessa com o fluxo menstrual o conhecimento fica retido. Neste momento deveríamos buscar novas atividades uma vez que nossa energia feminina é canalizada para o pensar. Pintar, tocar instrumentos musicais, estudar línguas, são exemplos de coisas que queremos fazer. Essa é uma fase que poderíamos compreendemos a vida com sabedoria e desprendimento, mas não é o que ocorre. Fora do ciclo de 28 dias a menopausa é um momento em muitas sociedades em que a mulher se torna sábia, pronta para o mergulho em si mesma. Com os filhos mais velhos e independentes geralmente é um convite para desembrulhar sonhos, fazer aquela viagem, aquele curso. Acontece que muitas mulheres, em nossa sociedade, ainda estão trabalhando muito e muitas na busca frenética pela juventude eterna. Elas tomam hormônios, fazem cirurgia e … tomam antidepressivo e remédios para dormir. Talvez seja o medo do último portal.

6 portal: Morte

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Os homens vivem como se não fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido, diz o livro tibetano do viver e do morrer. Não temos o direito de morrer, em paz. Nossa vida é prolongada infinitamente. Somos poupados da dor que é veículo de passagem. Morremos lentamente, ausentes do corpo e dos processos. Mil medicamentos, anestésicos até que a vida realmente se vai. Quantas pessoas morrem sozinhas em uma UTI, sem o abraço, calor, comida dos familiares. Quantos morrem assim como os bebês nascem, resignado, tristes sem um abraço. E assim cruzamos o último portal: sem autonomia sobre nossos corpos, manipulados pela ciência, anestesiados. Minha luta é para que em todos os portais possamos assumir o protagonismo, optar por formas naturais: de nascer, de lidar com a menstruação, de parir, de lidar com a menopausa e de morrer. No início, amor. No fim amor. No meio precisamos cultivar o protagonismo! 
* Fotos da fotógrafa francesa Alexandra Sophie, que com apenas 20 anos, criou uma série onde explora as fases da vida de uma mulher.
Por Kalu Brum

Um comentário:

Mandala disse...

Lindíssimo texto. Gostaria tanto de saber atravessar o portal 4. Tenho tanto medo do parto... Minha mãe sofreu muito no parto no meu irmão e quase morreu, no fim deu à luz através do fórceps. Traumatizada, quando eu estava pra nascer optou pela cesárea e sempre recomenda que eu dê à luz dessa forma. Conheço a importância do parto humanizado e adoraria que fosse assim, mas morro de medo só em pensar...

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