9 de set. de 2012

O mar de emoções da gestação

Olá
Hoje me toca falar sobre as ondas de sentimentos que vão e que voltam durante este período que é a gestação.
A figura de uma mulher grávida sempre envolve uma atmosfera de beleza, de magia, de plenitude... de algo doce e sereno, exuberante... Se percebe na forma a abundância deste momento... a força, a coragem, o poder da criação... mas pouco se fala das profundezas, da escuridão, das correntes que agitam este mar.

Gestar uma criança, abrigar um Ser no ventre é algo misterioso e intenso... e somente uma mulher que já esteve com seu ventre preenchido por esta água que gera vida, sabe da intensidade que estou aqui tentando falar...

Cada mulher é um indivíduo único e que traz consigo uma história particular... suas vivências, medos, virtudes, qualidades, características próprias da sua persona. Embora estejamos sempre em constante transformação, a gestação é um Rito de Passagem pelo qual a mulher transpassa vários portais. Até ela alcançar a etapa de ser o próprio PORTAL. Para isso, muitas vezes é preciso descer ao mais profundo de si mesma, mergulhar naquela parte mais escura e se deparar com suas maiores sombras, como Inanna. Para então voltar de lá renascida e esta é a hora do parto. Onde ambos, mãe e filho ultrapassam o portal da morte... a mulher deixa de ser quem era e o feto deixa para trás seu universo aquático, seu casulo "a placenta" e nasce criança. Ambos nascem juntos no momento da "expulsão".
Saber que se caminha para isso, para este momento, por vezes é aterrorizante, principalmente quando se aproxima a HORA. 

Muitas mulheres sentem-se sozinhas nesta trajetória (e ás vezes procuram estar dessa forma em alguns momentos) porque não conseguem expressar tudo que se passa internamente. Mas é muito importante o apoio, a compreensão e o respeito de quem quer que conviva com uma gestante, seja companheiro, amigos (as), familiares, colegas. Dar o tempo que ela precisa em seus momentos de introspecção e reflexão... e acolher com todo o amor, quando ela busca acolhimento. Ser uma boa escuta, privar-se de julgamentos, procurar dar segurança, apoio emocional... são atitudes que podem tornar essa caminhada de algumas luas, mais tranquila e confiante.

É comum na gestação do primeiro filho surgir o medo de ser mãe, questionamentos que não acabam, a cabeça parece uma festa de grilos falantes que te tiram o sono e você pode passar horas repensando sua vida e suas escolhas... por mais desejada e saudável que seja a gestação, podem surgir dias de conflito emocional, minutos de insegurança, choros compulsivos, dúvidas, raiva, rebeldia, revoltas...  medo do parto e ainda a culpa e o auto-julgamento... que não poderia estar sentindo tudo isso durante um momento tão especial e lindo que DEVERIA ser a gestação. 
E a preocupação de que o bebê sente tudo que você sente lhe deixa ainda mais em "crise", tentando negar seus sentimentos para proteger o seu bebê.

E não há regras não, cada gestação é uma gestação (seja do primeiro, segundo ou terceiro filho)... tem aquelas que vem acompanhada de enjôos, tonturas, sonolência, fadiga, dores nas pernas, nas costas, azia, prisão de ventre, intolerância a certos odores (e certas pessoas), desejos repentinos, alteração brusca de humor... isto tudo pode acontecer eventualmente durante este longo ciclo, como pode acompanhar a mulher por parte ou toda gestação. E isto tudo pode deixar a mulher muito irritada, impaciente ou agressiva, como pode torná-la fragilizada e depressiva. 

Gente, não estou querendo pintar a gestação de "negro" (e qual o problema mesmo? o útero é escuro!), nem tentando acabar com o "conto de fadas" e a magia da maternidade. Continua sendo um momento sublime e mágico, mas que tem seus altos e baixos, como toda a magia e todo o vôo!

Não estou escrevendo para aquelas que tiveram todos os prazeres e orgasmos na sua gestação, que encontraram-se no momento mais lindo de suas vidas... que sentiram-se no paraíso, abençoada pelos deuses/deusas. Estou escrevendo para àquelas que estão compreendendo o que está exposto nestas linhas.


Não há regras, há uma mulher num determinado período de sua vida, trazendo em si um mistério - o mistério da criação - deixando e sentindo todo seu corpo se transformar e preparar-se para uma expansão inimaginável - o momento da Passagem!


O encontro com Deus...
O momento que seu dedo toca o dedo de Deus.

O momento que seus olhos se deparam com os olhos de seu filho(a)  pela primeira vez...



Seu corpo e sua memória ancestral sabem exatamente o que fazer, tudo caminha para onde tem que ir... e entregar-se a natureza, sem controles e imposições, sem intervenções, sem esperar garantias... ASSUSTA.
Assusta quando não se tem uma cultura matrifocal, onde ás mulheres costumam reunir-se para honrar e ritualizar seus ciclos, para as mais velhas ensinarem as mais novas, onde todos os "Ritos de Passagem" são respeitados e valorizados, onde fala-se de sexualidade sem pudores e aprende-se a sacralizar seus corpos, onde a opinião das avós ainda interessa... e se cresce ouvindo ás anciãs falarem de morte e nascimento com a autoridade e a experiência que lhes cabem.

Escutei de uma avó da floresta que "a mulher fica muito mais sensível (sensitiva) e capaz de abrir e/ou acessar portais durante a gestação"... por isso, é importante a atenção redobrada por parte da mulher gestante. Embora haja uma força constante de proteção, pois a Grande Mãe nos cobre com seu manto desde a concepção, é bom estarmos atentas á ambientes e relações tóxicos. Nem todos os portais devemos acessar... alguns "deixa prá lá", como disse a avó. Tem coisas que não são interessantes, ou não é o momento adequado (aqui estou falando com as Perséfone's, bruxinhas ATENÇÃO!).


Assim como no tempo de lua, no ciclo mensal da mulher que sangra, durante a gestação somos capazes de acessar toda a alegria e sofrimento do meio, da família, da comunidade, da humanidade. Estamos com uma conexão muito íntima com a terra e o céu nestes períodos e a possibilidade de alcançar grandes visões e curas. Por isso, você gestante deve estar atenta a que tipo de energia permite se aproximar, nem todo portal é preciso acessar! Cuidado com a mente (sua e dos outros)!
Reconheça o que é seu, realize sua reforma íntima, busque ajuda se assim desejar e/ou precisar (sempre há anjos no caminho) e siga viagem rumo ao encontro daquele ou daquela que transformará sua vida por completo - seu filho/filha.



Os momentos de sombra / de escuridão são e DEVEM SER passageiros... você pode e É CAPAZ de encontrar forças em você que julgava desconhecer... e principalmente, é capaz de encontrar uma mulher determinada, forte, valente e "focada"... Empoderada. E isto assusta aos outros, hahaha.

Antigamente era comum as mulheres grávidas confeccionarem patuás e talismãs de proteção para a gestação. Era comum a crença de que estas mulheres deviam se proteger do "olho grande" ou "mal olhado". Hehehe... refletindo sobre isso fiquei imaginando... nos tempos atuais é como você estar carregando uma sacola de riquezas! É a fartura e a abundância chegando em sua vida!

Você já reparou como uma gestante desperta olhares onde chega? As pessoas olham e ás vezes não sabem nem porquê olham. Mas é a beleza da forma arredondada, plena e repleta de vida que chama a atenção, é a personificação da Grande Mãe, da Deusa.

Portanto, você está "podendo", entende?
Pode ter desejos, pode passar na frente, tem preferência sim!
Pode ser paparicada, mimada, cuidada (aproveiteeeeeeee!).
Pode ter mais tesão, menos tesão... pode ter prazer SIM!
Não é menos nem mais mulher por estar grávida, É MULHER!
Chore, isole-se, busque colo, não se envergonhe de seus sentimentos, se dê o direito de temer... o medo é natural e comum diante de uma grande travessia... o que não pode nos faltar é CORAGEM!

Se faltar apoio em casa, busque grupos de apoio à gestantes e casais grávidos na sua cidade. Busque participar do Movimento dos Círculos Femininos, do Parto Humanizado, busque uma comunidade de apoio. Pesquise, vá em busca, não abandone-se! EU ESTOU COM VOCÊ!

A gestação não é um tempo de escuridão, nem de luz... é um tempo de ILUMINAÇÃO!


Ana Paula Andrade

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