28 de fev. de 2009

Entrevista Amit Goswami

“É um erro ignorar emoção e intuição”

Físico nuclear indiano propõe uma surpreendente
Integração entre física quântica e espiritualidade

Alexa Salomão

Os conhecimentos da física quântica – um ramo da ciência que estuda partículas atômicas e subatômicas – podem ser úteis na busca da felicidade? Essa é, pelo menos, uma das idéias defendidas pelo indiano Amit Goswami, de 70 anos. Professor emérito no Instituto de Física da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, Goswami é um físico respeitado internacionalmente que propõe a integração entre a ciência e a espiritualidade. Suas idéias inspiraram Quem Somos Nós?, um filme cult, disponível nas locadoras, que fala da possibilidade de alterar a realidade com o pensamento. O filme ajudou a fazer de Goswami um dos nomes mais requisitados para conferências no mundo.

ÉPOCA – O senhor prega o “ativismo quântico”. O que é isso?
Goswami – É utilizar os conhecimentos da física quântica para transformar a vida, a realidade e o mundo a sua volta.

ÉPOCA – Como?
Goswami – De maneira ampla, podemos dizer que a física quântica é a ciência das possibilidades. Quando você toma contato com seus princípios, fica atento às possibilidades que existem a sua volta e também às escolhas que essas possibilidades oferecem. As pessoas tornam-se, então, livres para ser criativas com sua vida. Também passam a acreditar que podem promover mudanças em seu destino. Essa nova postura é fundamental para ampliar a espiritualidade e fazer com que deixem de valorizar apenas o que há de material a sua volta.

ÉPOCA – O que é inteligência espiritual e como podemos usá-la?
Goswami – É uma inteligência mais ligada à intuição que à razão. Temos quatro tipos de percepção: a sensação, no plano físico; a emoção, no plano vital ou energético; e o pensamento, no plano mental. E também a percepção sutil, a intuição. Quando dependemos apenas do racional, que é a tendência hoje em dia, jogamos fora nossa intuição. Não descartamos o aspecto sensorial, porque ele faz parte da relação física com o mundo, mas freqüentemente ignoramos bastante a emoção e a intuição. Isso precisa mudar.

ÉPOCA – O filme Quem Somos Nós é uma aula sobre isso?
Goswami – O filme espalha uma mensagem. Basicamente explica como reconhecer de que maneira a física quântica faz parte da vida. Deixa claro, por exemplo, que quando você diz “Odeio você” não está apenas pronunciando palavras. O sentimento que acompanha a frase inicia um movimento de raiva, que envolve tudo a sua volta e retorna para você mesmo.

ÉPOCA – Há outro filme que explora o mesmo tema, O Segredo, e foi um grande sucesso. Gosta dele também?
Goswami – O Segredo tem o mérito de falar sobre a importância da intenção para materializar o que se desejar. Essa consciência é importante. Mas o filme peca pelo materialismo. Diz para você usar a intenção para ter um grande carro, para ganhar muito dinheiro. Não é essa a mensagem.

ÉPOCA – Como é possível que tenhamos o poder ilimitado de controlar tudo a nossa volta apenas com o desejo e o sentimento?
Goswami – Esse poder vem de um truque. Quando as pessoas entendem que há possibilidades, deixam de ser prisioneiras das circunstâncias. Também param de tentar exercer o que chamam de controle da situação. Não definem as coisas antes dos acontecimentos. Deixam-se levar pelos acontecimentos para, só então, fazer suas escolhas. A partir desse momento, elas conquistam o verdadeiro controle sobre sua vida, porque estão fazendo escolhas, e não tentando se impor.

ÉPOCA – O senhor fala muito na existência de uma consciência quântica. O que é isso?
Goswami – É a percepção de que tudo está interconectado. Que as coisas se relacionam entre si o tempo inteiro e que todos fazem parte desse mesmo “todo” e interagem o tempo inteiro.

ÉPOCA – O senhor chamaria de “Deus” essa consciência?
Goswami – Sim. Isso pode ser chamado de Deus. Deus é o grande criador de nossas possibilidades. Nós fazemos as escolhas.

ÉPOCA – Muitas das idéias do senhor não podem ser cientificamente comprovadas. O senhor não está levando essa interpretação muito longe?
Goswami – A ciência prova que a consciência está interconectada. Também está provado que há uma evolução da consciência. Também está provado que essas energias influenciam muito em nossos sentimentos.

ÉPOCA – Quais são os fundamentos do que o senhor chama de economia espiritual?
Goswami – O capitalismo desenvolvido por Adam Smith é um sistema econômico maravilhoso. Mas tem defeitos. A teoria clássica só considera o material como variável e prevê que o capitalismo estará sempre em expansão. Isso não é sustentável a longo prazo. O problema da teoria clássica é que nós não somos aquilo que sentimos, somos os mapas mentais daquilo que pensamos, seus significados, e ainda somos também o intelecto. Adam Smith ignorou isso por achar que essas qualidades não eram mensuráveis. Quando introduzimos esses fatores – as energias, os pensamentos – na equação econômica, nós percebemos que ela se fecha. Quando estamos bem espiritualmente, naturalmente a demanda por bens materiais diminui. E, quando o ciclo se completa, as pessoas podem voltar para a demanda material de antes. Na economia espiritual, a demanda nunca chegará ao limite, pois ela leva em conta os ganhos espirituais. Assim que o material é satisfeito, as pessoas se sentem estabelecidas. O que precisamos fazer é treinar a habilidade de nos sentir estabelecidos.

ÉPOCA – Como isso pode ser transportado para o ambiente de trabalho?
Goswami – É reconhecido que se os funcionários têm espiritualidade, eles são mais criativos. O tempo de lazer é a coisa mais importante para trazer essas energias. Ócio gera criatividade.

ÉPOCA – Qual é o papel do dinheiro?
Goswami – O dinheiro é secundário. Isso é o mais importante. No mundo materialista, capitalista, achamos que o dinheiro está ligado ao êxtase. As pessoas são movidas por energias negativas como ganância, inveja, poder, ódio, agressividade. O material, o corpo físico, é apenas um instrumento para essas energias. Quando damos a atenção devida às energias certas, às energias mentais, nós nos alforriamos automaticamente das energias ruins. Nós continuamos a tê-las. Mas não somos mais escravos.

Revista Época nº 484 – 27 de Agosto 2007

2 comentários:

Ana Karina Fainascki Panzoni disse...

Olá!!! Ana Andrade,

adorei sua visita e comentário. obrigada pelo carinho e atenção. também adorei te conhecer. seu blog é muito belo e informativo, com certeza vamos realizar muitas trocas, e vamos continuar mantendo contato. me visite sempre que tiver um tempinho, estou sempre atualizando o blog.
percebi que temos muito em comum, tanto interesses como afinidades.
se tiver msn, me adiciona
karinafainascki@hotmail.com

Beijinhos,
Karina.

Anônimo disse...

Nossa estou estudando Amit, adorei a entrevista na Época, muito legal ter colocado esse material em seu post. Abraço Cynthia.

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