2 de dez. de 2008

A Lenda de Maní

Hoje, quero dividir com vocês uma lenda muito bonita, que nos ensina, entre muitas coisas, a darmos atenção aos sinais (sonhos) e a respeitar e amar o diferente.
(Lenda tradicional da Amazônia, recontada por Esperança Alves*)

"Há muito tempo, na Amazônia, em uma tribo indígena, pertencente à ancestral matriz Tupi, a mais bela “ cunhãtã” , filha do cacique, apareceu grávida, misteriosamente. O pai, muito contrariado por sua filha trair os costumes do seu povo, afinal não estava prometida a nenhum jovem guerreiro, quis sacrificá-la à “ Tupã” , mas, foi detido de seu intento, após um sonho. Neste, um homem branco lhe apareceu comunicando a inocência da mãe virgem, escolhida para uma importante missão.
Passadas 09 luas, a mãe deu à luz uma linda menina, muito alva, a quem deu o nome de " Maní ". De início, todos acharam muito estranho a cor diferente de sua pele, mas com o tempo foram se acostumando, se encantando e vendo graça e beleza naquela criança por quem aprenderam a nutrir grande amor e respeito.
Um dia, misteriosamente, “Maní” morreu sem ter adoecido. A comunidade inteira ficou desolada. A mãe e o avô ficaram muito, muito tristes. O Conselho das mulheres mais velhas orientou e cuidou de enterrá-la no centro da maloca do avô.
Dia e noite a mãe chorava sobre a sepultura de “ Maní”. Depois de certo tempo, para surpresa de todos, do chão brotou uma pequena e desconhecida planta. E o mais espantoso foi mesmo quando a terra se abriu e apareceram grandes e belas raízes. Um a um foi chegando para ver a grande novidade. Com grande apreensão e respeito colheram as raízes, percebendo que, por dentro, elas eram "branquinhas", pelo que imediatamente associaram com o corpo de “ Maní”. Acreditaram ser uma nova manifestação de sua vida. Por isso, deram-lhe o nome de " Maní-oca ", que significa casa ou corpo de “ Maní” , na língua tupi.
A partir de então, nunca mais a população daquela aldeia Tupi passou fome, tornando-se a “maní-oca”, ou mandioca, seu principal e sagrado alimento.

Saiba...
A mandioca tem um enorme valor cultural, não só na Amazônia, mas para toda a América do Sul, sendo encontrada do Norte da Argentina até o sul do México. Vários pesquisadores levantam a hipótese de sua domesticação ter se dado na região Amazônica com povos pertecentes ao tronco linguístico-cultural Tupi-Guarani, estes por sua vez, também sendo originários da mesma região (Pau-Brasil / org. Eduardo Bueno. – São Paulo: Axis Mundi, 2002).
Maní - Ser mítico e arquétipo da Grande-Mãe Virgem, na tradição indígena Tupi que conta a origem da sagrada raiz da mandioca (manioca em tupi) que alimentou e alimenta povos diversos da Amazônia até a América Latina. Provavelmente de origem amazônida, a mandioca foi domesticada pelos povos de ascendência ancestral Tupi. No oriente, o termo mani significa literalmente "jóia", e refere-se a um tipo de não-substância imune a danos e mudanças, simbolizando o estado iluminado da compaixão e do amor. Acredita-se que "mani" esteja associada à Deusa "Kwan-Yin" - representação da Grande-Mãe na tradição do budismo chinês.

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